OS BENEFÍCIOS DA MUSICOTERAPIA EM DIFERENTES SITUAÇÕES:
A
música é a arte da combinação de sons e ritmos harmônicos e
melódicos, seguindo uma pré-organização ao longo do tempo. É
conhecida como prática pré-histórica, provavelmente decorrente dos
sons da natureza, sendo aperfeiçoada ao longo do tempo de acordo com
a prática natural humana. É característica peculiar, visto que
cada civilização possui seus diferenciais. Dentre as várias
utilidades da música, tem-se o efeito terapêutico, também
utilizado desde os primórdios e documentado em diferentes períodos.
Vários benefícios foram registrados em diferentes culturas.
O
interesse da música sobre a saúde começou a surgir a partir do
século XXI, especialmente sobre o controle e redução da dor. Além
disso, a importância da interação entre paciente e música
auxilia na promoção da saúde através de experiências musicais. O
mecanismo ainda permanece obscuro, mas a hipótese fisiológica é a
liberação de peptídeos opióides endógenos, como a endorfina,
através da etimulação da glândula pituitária. Há, então, a
redução da dor e da necessidade de anestésicos. A redução das
frequências cardíaca e respiratória parece estar associada à
redução das catecolaminas. Foi encontrada, também, a redução da
ansiedade, especialmente presente em pacientes hospitalizados. Sons
ritmados e harmônicos podem aliviar dores físicas e emocionais,
além de agir em parâmetros hemodinâmicos.
No
estudo realizado por HATEM et al. foi
encontrada a minimização dos distúrbios cardíacos em repouso,
relaxamento muscular e benefícios no sono. É importante salientar
que se adequou a música ao gosto do indivíduo.
Constatou-se, também, a necessidade de mais estudos com o foco no
ritmo, tempo, harmonia e timbre; a fim de concluir-se exatamente as
alterações que cada um traz durante a terapia.
No estudo de ARNON 2011, a música foi usada em mães lactentes na
unidade de terapia intensiva, sendo submetidas a 3 sessões por
semana com duração de 1h. A preferência da música é de ninar,
com tom mais baixo e um ritmo mais lento, visto que música clássica
pode ser inadequada por gerar um estado de alerta. A expressão
verbal, expressão musical, canções de ninar, relaxamento e
encerramento foram empregados, resultando no aumento do aleitamento
materno. Esses resultados foram observados até 60 dias após o
término da terapia. Além disso, os benefícios maternos se
estenderam à redução da ansiedade, mostrando-se mais eficaz quando
associada ao contato com o filho. Os lactentes, por sua vez,
apresentaram ganho de peso, redução dos comportamentos de estresse
e do tempo de hospitalização, níveis elevados de oxigênio por
curtos períodos de tempo. As canções de ninar administradas
simultaneamente à sucção da chupeta potencializou-a.
Diferentes métodos de musicoterapia foram empregados, sendo eles
música gravada, música ao vivo, uso de instrumentos, voz feminina
terapeuta e voz materna. Através da música ao vivo feminina com o
uso de harpa, foi possível observar redução na frequência
cardíaca e redução da ansiedade em lactentes prematuros estáveis.
É importante salientar que o lactente é inábil para diferenciar
música de barulho ambiente dos 9 aos 12 meses e que o reconhecimento
da voz da mãe tem início antes dos 24 meses. Não há registro de
pesquisas que envolvam sons produzidos por brinquedos e rádios, no
entanto sabe-se que possuem som superior ao considerado inofensivo à
audição humana. Constatou-se, também, que o cantar da mãe,
especialmente simultâneo a outros estímulos como o contato com a
pele, é uma maneira mais eficaz de promover o relaxamento para
lactentes.
Uma pesquisa norte-americana realizada em 2006 constatou que 72% das
UTIs neonatais já adotaram a musicoterapia para lactentes
prematuros. Nos estudos realizados até o presente momento, a música
conferiu tranquilidade aos pais e à equipe da saúde, não trazendo
malefícios ou quaisquer contra-indicações.
A ansiedade é um fator que pode frequentemente alterar os
parâmetros cardiovasculares, podendo agravar a dor no
pós-operatório. Para seu dimensionamento há a Escala de Ansiedade,
cuja sigla é STAI (State Trait Anxiety Inventory). Nesses casos, são
administrados ansiolíticos, especialmente benzodiazepínicos; tem-se
efeitos colaterais como agitação, hiperatividade e amnésia
prolongada. NOCITI 2010 teve como objetivo a análise da terapia
musical como efeito anestésico e foi realizado com fones de ouvido
conectados a CD players, sendo a seleção das músicas
realizada por terapeutas musicais. Para a finalidade de anestesia, foi empregada música relaxante, excluindo a música
lírica e as que possuem elevada amplitude dinâmica em virtude de
serem hiperativadoras.
Constatou-se redução no consumo de drogas para sedação
pré-anestésica e redução da resposta ao estresse em pacientes
ambulatoriais no intraoperatório. Portanto, a musicoterapia
mostrou-se tão eficaz quanto benzodiazepínicos para controle de
ansiedade. Esse estudo mostrou a grande importância da implementação
de programas de terapia através da música por anestesiologistas,
com ênfase em pacientes ambulatoriais. É interessante, também, a
implantação em salas cirúrgicas para os próprios médicos e
demais terapeutas se beneficiarem.
A musicoterapia também mostrou-se eficiente quando implementada em
pronto-socorro adulto de médio porte. A partir da aplicação de
música erudita, 78% percebeu alterações no ambiente de trabalho
com a presença de música e 41% acreditou haver melhora individual
no desempenho de cada profissional, ajudando em sua organização.
Seu uso também foi pesquisado em pacientes em coma, tanto
fisiológico como induzido. O coma é caracterizado por perda total
ou parcial da consciência, sendo decorrente geralmente de lesões
cerebrais, intoxicação, problemas metabólicos ou endócrinos. Até
o presente momento não é possível saber detalhadamente sobre a
percepção auditiva e o que acontece no cérebro de pessoas em coma.
Entretanto, sabe-se que a audição é o último sentido a ser
perdido. Por isso, é necessária cautela com o que é dito à beira
do leito.
PUGGINA et al. 2009 realizaram uma pesquisa utilizando o
ambiente sonoro com pacientes em coma, submetendo-os a 3 sessões
diárias. A expressão facial antes do início de cada intervenção
foi observada e anotada. Ao final de cada uma, a expressão foi
filmada para posterior visualização e comparação. A escolha da
música ocorreu de acordo com o paciente, faixa etária, nível
social e origem etnológica. Preferencialmente escolheu-se músicas
relacionadas a um momento significativo na vida do paciente,
personalidade, experiências relevantes e positivas antes do coma; sendo elas as mais eficazes durante a terapia.
Exemplos de reações positivas observadas foram aumento das
frequências cardíaca e respiratória, rubor na face e reações
comportamentais. Mudanças na respiração também ocorreram, assim
como movimento motor fino, abrir e
fechar das mãos e rotação cervical. Quando o terapeuta começou a
cantar ocorreu aumento da frequência cardíaca, talvez pela
tentativa de orientação e reconhecimento do estímulo. Durante o
estudo também foi possível observar a relação do paciente com os
familiares, assim como entrar em contato direta ou indiretamente com
a história particular de cada um deles.
Apesar de serem necessárias mais pesquisas a respeito da
musicoterapia, são incontestáveis os benefícios que traz tanto ao
paciente quanto à equipe profissional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1. HATEM, T. P.; LIRA, P. I. C.; MATTOS, S. S. Efeito terapêutico da música em crianças em pós-operatório de cirurgia cardíaca. Rev. Pediatr., v.82, n.3, 2006.
2. ARNON, S. Intervenção musicoterápica no ambiente da unidade de terapia intensiva. J. Pediatr., 87(3):182-185.
3. NOCITI, J. R. Música e Anestesia. Rev. Bras. Anestesiol. v.60, n.5, set./out., 2010.
4. GATTI, M. F. Z; SILVA, M. J. P. Ambient music in the emergency services: the professionals' perception. Rev. Latino-am. Enferm., 15(3):377-83, mai./jun., 2007.
5. PUGGINA, A. C. G.; SILVA, M. J. P. Sinais vitais e expressão facial de pacientes em estado de coma. Rev. Bras. Enferm., 62(3):435-41, maio/jun., 2009.
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